trabalho”, no qual KARO significa excesso de trabalho e SHI,
morte.
O “Karoshi” é descrito na literatura sociomédica como um
quadro clínico
extremo (ligado ao estresse ocupacional) com morte súbita
por patologia coronária
isquêmica ou cérebro vascular.
O primeiro caso de morte súbita registrado ocorreu em 1969,
no Japão,
quando um trabalhador de 29 anos, empregado da área de
distribuição de jornais
da maior empresa japonesa do ramo, morreu por infarto.
Esse novo fenômeno foi rapidamente rotulado “Karoshi” e foi
imediatamente
visto como uma nova e grave ameaça à força de trabalho.
Em 1987, como a preocupação pública aumentou, o Ministério
do Trabalho
japonês começou a publicar estatísticas sobre “Karoshi” e,
em 1991, anúncios
sobre “Karoshi” apareceram em jornais estrangeiros.
Recentemente, em dezembro de 2007 e janeiro de 2008, os
canais de
comunicação de todo o mundo noticiaram que a Corte de
Nagoya, no Japão, reviu
a decisão do Ministério do Trabalho que havia recusado
benefícios à viúva de exfuncionário
da Toyota Motor, Kenichi Uchino, que morreu em 2002 por
excesso de
trabalho, dando novamente notoriedade a esse trágico evento
que tem ocorrido
com os empregados.
No Japão as horas extraordinárias trabalhadas, em geral, não
são
remuneradas. São consideradas como trabalho voluntário. A
decisão da Corte de
Nagoya é importante porque pode aumentar a pressão sobre as
empresas para
tratar das “extraordinárias livres” (trabalho que um
empregado é obrigado a executar,
mas não recebe) como trabalho remunerado.
Os números oficiais dizem que os japoneses trabalham cerca
de 1780 horas
por ano, ligeiramente menos do que os americanos (1800 horas
por ano), embora
mais do que os alemães (1440). Mas as estatísticas são
falaciosas, pois não contam
as “extraordinárias livres”. Outras mostram que um em cada
três homens com
idade entre 30 e 40 anos trabalha mais de 60 horas por
semana. Metade desses
não recebe nenhuma hora extraordinária.
Na atualidade, anualmente o Ministério do Trabalho japonês
tem indenizado
entre 20 e 60 famílias de trabalhadores que morrem pelo
“Karoshi”. Alguns
especialistas consideram que as vítimas do KAROSHI
ultrapassam 10.000/ano.
O Ministério da Saúde, Trabalho e Previdência Social japonês
publicou
estatísticas relevantes em 2007: 147 trabalhadores morreram,
muitos por acidentes
vasculares cerebrais ou ataques cardíacos.
Por se tratar de um termo médico-social, o “Karoshi” abrange
uma
interdisciplinaridade considerável, sendo objeto de estudos
por administradores,
psicólogos, médicos, juristas, dentre outros profissionais.
Segundo Liliana Guimarães, Professora Doutora do
Departamento de
Psicologia Médica e Psiquiátrica da FCM/UNICAMP, em artigo
publicado no sítio
da Sociedade Paulista de Psiquiatria Clínica, no Japão
as autoridades resistiram a princípio, ao reconhecimento
desta patologia como sendo
de origem ocupacional, mas a grande pressão social e o
crescente número de viúvas
e filhos que impetraram processos indenizatórios contra as
empresas e o governo
fizeram com que a 1ª indenização fosse concedida já nos anos
70.
Fonte: Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.46, n.76, p.131-141, jul./dez.2007
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